Sábado, 13 de Agosto de 2005

- Portugal face a Espanha


PORTUGAL FACE A ESPANHA
 

 

A História tem ironias curiosas. Os excessos dão origem a outros excessos.
Não se podia pôr em causa todo um conjunto de valores até 1974. O que a pouco ou nada nos levou, realmente. E seguiu-se um discurso moderno. O País passou a discutir-se. Tudo passou a ser equacionado.
Os fantasmas passados foram, mais do que postos de lado, transformados em modelos a seguir. Assim, do "fantasma" da ameaça espanhola, passou-se à aceitação de que a entrada dos nossos vizinhos ibéricos nos negócios estratégicos lusos é perfeitamente natural. Há quem defenda ser até desejável, e mesmo desinteressada. E, claro, tudo se faz no quadro natural da economia neo-liberal predominante na União Europeia.
Para se provar que se puseram de lado os velhos preconceitos anti-espanhóis, foge-se de dramatizações patrióticas, para não se ser acusado de provincianismo e de pôr a nu os tradicionais complexos hispanófobos... impróprios de cidadãos europeus do Século XXI!
Há quem se questione. Cito Nicolau Santos, no "Expresso" de 30 de Julho de 2005:" [O] que se vê é uma aposta firme dos espanhóis em cinco áreas, com objectivos bem definidos: telecomunicações, energia, água, banca e media." E Nicolau Santos acrescenta:"Perceberam ou é preciso explicar?" Na verdade, este tipo de apostas pode por em causa a soberania nacional.
Mas...que fique desde já bem claro que neste texto não há lugar para nenhum "anti-espanholismo" primário e redutor! A Espanha faz o que a deixam fazer, num quadro comunitário a que Portugal também aderiu. O problema é que não estão claras, em Portugal, orientações estratégicas diversificadas, o que poderia> limitar o investimento espanhol em Portugal a benefícios puramente económicos. O Estado Português não tem sabido ter um sentido estratégico, uma visão geral do País, não esquecendo as zonas desfavorecidas, que permita ao cidadão saber o que se pretende construir para o futuro, como, e para quem ( isto é, que sectores da sociedade se pretende principalmente beneficiar, para que se equacione a questão talvez mais importante da História da Pátria lusitana, que é a da excessivamente desigual distribuição da riqueza).
Assim, é difícil a cada um saber julgar correctamente o que os sucessivos governantes pretendem. Nenhum parece empenhar-se em tentar dar um sentido objectivo às medidas que toma... principalmente, nenhum parece querer-se dar ao trabalho de procurar honestamente definir um conjunto de orientações estratégicas...necessariamente depois de efectuarem alguns estudos fundamentais e de se consultar a sociedade por todos os meios possíveis e com a máxima seriedade...para que tal conjunto não resulte de uma decisão de uma pequena elite que apresente como gerais interesses que são apenas os do seu reduzido número!
Todas estas omissões conduzem o País a uma Crise Existencial. Ao ponto de se defender a dissolução do mesmo. Fala-se em se "aderir" à Espanha.
Parece esquecer-se que Portugal já aderiu a uma Comunidade precisamente, entre outras razões, porque se considerou que, sozinho, não teria grandes possibilidades de progresso. Na verdade, tal não resolveu miraculosamente uma grande parte dos problemas portugueses. Por que razão uma "adesão" à Espanha o faria?
A resposta que muitos dão é a de que "ficávamos logo a ganhar mais."! Que ingenuidade! De repente, cheios de boas intenções, os Espanhóis subiriam os rendimentos de cerca de dez milhões de portugueses, sem nada exigir em troca, e sem alterar os hábitos lusitanos.
Aliás, esta "miragem" espanhola é estranha. Isto porque Portugal, Espanha, e Grécia, são países com problemas comuns. Todos eles têm exportações com reduzidas doses de tecnologia. É verdade que a Espanha tem as contas públicas bastante saudáveis, mas tem problemas de estagnação de exportações, e o seu crescimento económico baseia-se muito no consumo interno e no sector imobiliário. Coisa que os países do Norte da Europa procuram evitar, apostando numa constante inovação e no reforço de componentes tecnológicas na sua produção, de modo a aumentar as mais-valias.
Portanto, não se negando, porque é evidente, que o nível de vida em Espanha é um pouco superior ao de Portugal, há que ter alguma cautela em relação ao modelo proposto, pois ele não é substancialmente diferente daquele que nós criticamos.
A Espanha tem os seus objectivos traçados, e só é desejável que não se veja abraços com nenhuma crise grave. É importante sublinhar isto, pois não faltam no nosso país sectores de opinião que gostariam de ver a Espanha mergulhada numa depressão. Na verdade, a Inveja é um sentimento muito comum em Portugal, especialmente em relação ao seu vizinho ibérico. Aqui, há que combater esta visão...que rejubila com o mal dos outros!
Não se pode é, em Portugal, continuar a aceitar como inocente ou neutro tudo o que vem de fora, principalmente de Espanha. Também não será nunca inocente ou neutra uma presença portuguesa num qualquer país ou mercado...o que não significa que não haja princípios, nem presenças culturais ou sentimentais. O que não se deve ser é subserviente. A Espanha não o é. Veja-se como nunca perde de vista o objectivo de recuperação de Gibraltar. E veja-se como Portugal mantém quase "clandestina" a sua reivindicação sobre Olivença, sobre a qual só fala esporadicamente ou se muito pressionado. O problema é que, como diz o provérbio, "quanto mais uma pessoa se agacha, mais se lhe vê o rabo" (fugindo ao vernáculo mais expressivo).
Olivença é também um símbolo. Da soberba e da amnésia espanholas...quando tal lhe convém. Porque Portugal é diferente, não deverá ter este tipo de atitudes...mas não deverá tolerar que outros a tenham em relação a ele. Porque se não, arrisca-se a por em causa o seu estatuto de Estado Soberano.
O que os últimos trinta anos demonstram é que não basta um país colocar-se num lugar onde exista ou circule riqueza para se tornar rico. É necessária organização. É preciso pensar em produzir riqueza, para ser tratado como igual pelos sócios junto dos quais quer ser aceite. Caso contrário, estará sempre em desvantagem, e será tratado como inferior, como um "criado"...prescindível...salvo para tarefas menos responsáveis e subalternas!
É necessário, talvez, fazer psicanálise. Mas o diagnóstico deverá rapidamente ser potenciado pela cura. E a cura (parece não restar outra alternativa) passa por arregaçar as mãos e atacar os problemas. Sem tibiezas ou "paninhos quentes"!
E indo ao fundo das questões...

Carlos Eduardo da Cruz Luna

Jornal de Olivença editou às 10:54

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